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Escrito por ser humano sem uso de IA



Meus textos são escritos com alma, levo tempo, levo para terapia, rumino palavras por semanas, faço a revisão; peço para minha mentora, colegas, professores lerem e comentarem. Escrever é um trabalho individual e coletivo. Invisto em oficinas, clubes de escrita, formação de pós-graduação de escritor. Não uso IA. Talvez seja necessário nos dias atuais uma nota de rodapé que diga: escrito por um ser humano sem uso de IA.

Fui ao Ceagesp de madrugada na feira das flores com a turma de escrita comer um pastel e tomar vinho. Falar de poesias, do que estamos lendo, dos projetos e dos sonhos em publicar por uma grande editora. Foi então que uma amiga desabafou que conhecia um cara que ia publicar um livro totalmente escrito por IA. Pior, ele não pretendia informar aos seus leitores que o livro que levaria o nome dele na capa foi escrito por IA.

 

Outra questão das IAs são os direitos autorais.

 

Meus conteúdos são gratuitos, mas não é por isso que estão disponíveis para serem copiados. Meu objetivo é praticar minha escrita e me comunicar com meus leitores. Alguns textos são o comecinho de projetos maiores. Outros podem virar contos. De uns tempos para cá tenho pensado em manter a divulgação apenas pela newsletter e fechar a leitura pelo site. Ainda não decidi.

 

Quando escrevo encontro em mim minhas meninices. Vejo as marcas na linguagem. Tenho calos no dedos por escrever de forma compulsiva. Tenho minhas predileções por canetas coloridas bico fino 0,4 em gel. Escrever é todo um ritual. É minha meditação. Quando eu consigo estar no aqui e no agora. Perco a hora escrevendo. Catarina Barros diz “escrevo para a pessoa que um dia serei, dirijo-me a essa promessa, a essa versão despojada dos bugs do presente”.

 

Talvez não interesse aos outros o que eu escrevo. A contradição é que isso me liberta para publicar. 

 

Minha escrita precisava amadurecer, sair do meu Eu dos diários, encontrar novas formas. Precisava aprender a escrever como uma escritora. Anne Lamott em Palavra por Palavra me recomendou “depois de um tempo comecei a pedir ajuda”. Procurei grupos de escrita. Estava muito solitária em meu processo. Mostrei meu texto uma vez a minha mãe que disse que não tinha nem pé nem cabeça. Meu pai disse que minha escrita era imprópria. Descobri que quem é muito próximo fica com medo de ofender. Família e amigos são os piores para florescer a escrita. O melhor leitor é o estranho. Não nutre nenhum vínculo afetivo comigo. Não tem compromisso nenhum. Pode me abandonar no meio da frase. 

 

Procurei ajuda em grupos de escrita. É difícil encontrar pessoas dispostas a trocar textos. Tive algumas parcerias. Fiz algumas oficinas de escrita de curta duração. Investi alto em oficinas com escritores renomados. Eu queria apenas respirar o mesmo que eles. As oficinas de escrita criativa de curta duração me servem como faíscas. A ignição para me tirar de uma letargia. Preencher meu caderno com mais um exercício. Mais um texto inacabado. Meu combustível se consome.

 

Haruki Murakami diz que o escritor é apenas aquele cara que aguentou por mais tempo no ringue. Contou ver gênios desaparecerem no anonimato por decidiram fazer outras coisas da vida ao invés de escrever. Em Romancista como Vocação, Murakami me diz para aguentar mais um round. Respirar fundo. Pausar. Continuar.

Murakami estava certo: me falta musculatura. Preciso me exercitar. Puxar ferro. Gastar tinta de caneta. Preencher cadernos. Fazer dos livros meu travesseiro. Pouco sei do fôlego necessário para escrever um romance.

 

Sigo escrevendo. Por mim. Para me fazer gente. Sem IA.

 

Agradeço por seu tempo de leitura e por caminhar ao meu lado nessa jornada de aprendiz de escritora.



 
 

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