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Par de vaso


O corte de cabelo era igual. Será que pediram a cabeleireira que fizesse em ambas a franja curtíssima com as entradas realçando a calvície e as laterais raspadas? As garotas se enlaçavam num abraço. De tão parecidas, o jeito de falar, as roupas, a altura; pensei que fossem gêmeas. Até que se beijaram. Levei um susto, não por serem duas mulheres trocando carinho na fila da lanchonete, mas por serem tão iguais.


Alguns casais passam a se parecer um com o outro depois de um certo tempo. Combinam cor de roupa sem perceber. Usam as mesmas expressões. Tem os mesmos trejeitos. Até parece que nasceram um para o outro.


Tornaram-se um como se isso fosse bom.


Poderia considerar as duas autênticas a ponto de assumirem o mesmo corte de cabelo. Quem deu a ideia primeiro? Quem copiou quem? Em algum momento, alguém abriu mão da própria essência. Abandonou a própria força gravitacional. Passou a orbitar o ciclo do outro vivendo uma vida alheia à sua. Não foi capaz de escolher por si. Achou cômodo não ter que pensar qual o corte de cabelo que lhe cabia melhor. Perdeu a identidade.


O lado bom é que o cabelo cresce. 

 
 

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