Virei Geléia

Minha resolução de ano-novo é voltar a usar agenda física, relógio de pulso e despertador na cabeceira da cama. Algo simples, mas que acredito que irá me desplugar do celular. Nem quero ver as estatísticas do meu tempo em tela. Tem gente que me fala que tudo depende de como eu utilizo a ferramenta. Tenho a mente fraca, suscetível ao vício em reels de gatinhos. Doo fácil minha atenção. Admito. E sabendo como eu me comporto, melhor evitar alguns hábitos. Voltar ao analógico me parece ser uma solução que pretendo colocar em prática em 2025.

Percebi que ao conferir as horas no celular lia mensagens no automático. De repente abria o Instagram sem nenhum propósito. Rodando o reels meu estado emocional variava em segundo. Ria, chorava, sentia raiva, inveja, detia-me em conselhos amorosos e vídeos de enriquecimento meritocráticos. Tudo muito rápido. Minha mente vira uma geléia mofada. Não tenho cognição para absorver tanto conteúdo. Aquela descansadinha no sofá virava 40 minutos. Ao invés de descansar e relaxar, saía do celular mais cansada, indisposta, morrendo de preguiça de lavar a louça. Cada um tem uma experiência com as redes sociais. A minha relação com o celular é péssima, confesso.

Nas últimas semanas fiquei organizando minha agenda no papel. Será que vou me esquecer de compromissos? Como eu fazia antes? Lembrei que eu e minha irmã ficávamos ansiosas pela nova agenda da Fatto. Vendia somente numa loja no shopping de Osasco, no centro. Passávamos todos os dias para saber se já tinha chegado a Agenda de 1993, a moça dizia que não poderia fazer reservas, e no ano anterior a gente não se organizou para comprar com antecedência e ficamos sem agenda. Foi um ano péssimo. Tive que usar uma agenda horrorosa de um fornecedor de gás que meu pai ganhou. Eu queria muito os adesivos da Fatto para colar sei lá onde, pois a agenda era tudo que meus pais poderiam comprar daquela loja cara, de marca, que vendia moletom. Eu queria ostentar meus adesivos, já que as roupas eu não tinha. Lembro o dia em que a agenda chegou na loja. Da capa macia estofada. Dos personagens com esparadrapo no nariz. Nunca entendi se eles estavam machucados. Sempre com expressões de dor. Eram os anos 90.

Também quero voltar a usar relógio de pulso, sem internet que me mostre apenas o que eu preciso saber: as horas. Também pretendo colocar na cabeceira um despertador, que toque música para eu despertar numa manhã de sol e que não se chame Alexa. Acho que o grande desejo com minhas resoluções de 2025 é me apropriar do meu tempo, do meu descanso, da minha atenção e foco. Escrever mais. Ler o dobro. Se eu conseguir isso já me dou por satisfeita.