Um tatu no chão da sala
- Elis Faustino
- 27 de fev.
- 1 min de leitura

Para exercitar meu cardio me matriculei numa aula de spinning. Sala escura. Luz neon. Cheiro de odorizador de sapatilha. Ar-condicionado trincando. A coach incentivava ao microfone. Bota carga, mais carga. Pedala. De pé. De frente para o espelho, ali estava eu subindo uma ladeira imaginária. Vai, Elis, mexe essa buzanfã. Pensei que não daria conta. Desconfiei da força do meu joelho. O ritmo da música entrou no meu corpo. Uma gota escorreu nas costas. Isso, neném. Enxurrada de endorfina. Vai, minha linda gostosa.
Após o treino, algo sucedeu.
Primeiro a sola do meu pé se contraiu. Quando tentei alcançar o prato no armário percebi meus braços encolherem. A perna encurtou. Meu joelho não estendia mais. Fui me agachando. Tentei me alongar de um lado pro outro, pra frente e pra trás. De repente, meu pescoço foi sugado para dentro do corpo. Minhas costas ficaram abauladas. Sentia meu cóccix pulsar. Meu rabinho doer. Passei o resto do dia encolhida. Enrolada dentro de mim. Em minha carcaça eu cantava baixinho Ivete:
"Energia de gostosa
Ela primeiro ela
Ela segundo ela
Ela terceiro ela
E as amigas dela
Energia de gostosa"
Bom carnaval, pessoal!




