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Orquídeas cheiram mal

Tenho preguiça de subir um andar. Elevador demora no subsolo. Espero. Era uma família retornando de férias. Homem me pede desculpas. Arruma as malas. Libera um espacinho pra mim. Me encolho. Mulher ao fundo segurando uma orquídea com as duas mãos. Não se move. Filhos aos cantos. Oprimidos.



Um cheiro azedo exalava das orquídeas. Era só um lance de escada, me arrependo. A mulher quebra o silêncio sagrado dos elevadores e diz “Eu falei para você não deixar no chão a minha orquídea. Eles chutaram minha orquídea a viagem inteira. Olha aí tudo despedaçada!”. Por um instante me vi balançando as pernas na cadeirinha enquanto segurava meu tablet distraída cantando minha música favorita. Saí do elevador e ao invés de dizer boa noite, escapou um “me desculpe".

Elis Faustino (2024)


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