O que fazer com os balões depois da festa?
- Elis Faustino
- 9 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de fev. de 2021

Ednei tinha acabado de tombar o container de lixo no subsolo de um condomínio de alto padrão. As caçambas só faziam sentido se houvesse um caminhão coletor para despejar tudo de uma vez, mas Ednei precisava retirar o lixo, colocar dentro de um carrinho para depois depositar os sacos na lixeira que dava acesso à rua. Por que os moradores não jogavam o lixo direto na lixeira? Ia completar quase 3 anos dessa rotina e Ednei nunca reclamou. Até que ao descer mais um subsolo, ele se deparou com um monte de balões ao lado da caçamba. Alguns haviam se desprendido do cordão e eram levados pelo vento entre os carros estacionados. - Que porra é essa? - Ele nunca se sentiu tão desrespeitado em toda a sua vida. Ele ficou tão indignado que imediatamente foi a administração falar com a gerente predial. - Eu me recuso a encostar nesses balões! A gerente não entendeu de imediato o nojo que o homem sentia dos balões, já que ele esvaziava as caçambas de lixo todos os dias e se deparava com saco plástico rasgado, fralda exposta, restos de comida apodrecida. A gerente lembrou que tinha prometido um tambor exclusivo para vidros depois que Ednei se cortou, mas se esqueceu. Ela nunca o viu tão furioso e logo pensou que se tratava de algum trauma: - Meu cachorro também não gosta de balão! - A senhora pede pro morador descer, por favor, pra recolher esses malditos balões! - disse aumentando o tom na mesma intensidade que a veia em sua testa latejava. Após identificar pelas câmeras de segurança, a gerente ligou para a dona Ivone do 27° andar. Ela desceu prontamente. Dona Ivone é do tipo de morador que sempre dá bom dia, mas sua simpatia não a diferenciava. A gerente predial teve dificuldades em dizer qual era o problema, melhor seria ter pedido a outro para recolher os balões ao invés de incomodar um morador, mas isso lhe ocorreu agora, por isso disse: - Dona Ivone, não se preocupe. Só peço que da próxima vez que você coloque os balões dentro do saco plástico. - Jogar fora? Não! Achei que você queria minha autorização para pegar. Deixei aí caso alguém queira. Ficaram tão bonitos que me deu dó estourá-los. Deu um trabalhão para encher! - Mas quem é que vai pegar balão, minha senhora, balão?! - disse o Ednei inconformado. - Ah, tem tanta criança aqui no prédio. Você não tem filhos? Qual seu nome mesmo? Pode pegar, vamos, pegue. - disse dona Ivone esticando um cacho de balões coloridos. - Tira esse negócio de perto de mim! - Qual o problema, Nei? - perguntou a gerente. - O coronavírus! O coronavírus! - saiu Ednei gritando pelo estacionamento procurando álcool em gel.




