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Leituras Deliciosas

Da série: bibliotecária por um dia


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Tenho lacunas como leitora. Espanar o pó das prateleiras da biblioteca me faz pensar em minha síndrome de inferioridade que me impedia de acessar dentro a paixão pela leitura. Quanto menos eu lia, mais fora me sentia, que aumentava meu complexo de vira-lata. Para criar o hábito da leitura tive que passar por um processo de auto-permissão.

 

Meus pais não tem o hábito da leitura. Não os culpo. São pessoas simples da classe média que cursaram ensino técnico. Não são intelectuais acadêmicos. O único livro que vejo nas mãos de meu pai é a Bíblia. Ele tem uma coleção de várias versões, traduções, com notas explicativas, com imagens. Um grande estudioso da Bíblia que gosta de bolar enigmas, como quando houve a primeira multiplicação de pães. Houveram mais de uma? O problema da leitura de um único livro dito como sagrado coloca os outros no lugar de profanos. Aí como eu posso me autorizar a ser uma escritora?


Clarice Lispector é uma bruxa. 

Cai na prova, pai.

Estude pelos resumos.


O pobre Hermann Hesse foi pra fogueira numa petit inquisição da churrasqueira porque na capa tinha um lobo. Queimou também Marisa Monte, o álbum Barulhinho Bom, por causa dos mamilos ouriçados. A leitura não só era incentivada, mas combatida.  


Uma moça não deve ler o Crime do Padre Amaro.

 

De fato, nunca li. Se a gente permitir acabam-se com os clássicos.

 

A proibição da leitura e a classificação de livros ditos como malditos antecede ao meu pobre pai que pensava em apenas me proteger. Virgem que eu era. Combater à censura de livros e garantir a liberdade de expressão é um dever do Estado, mas e quando o Estado é formado por pessoas carregadas de vieses religiosos anti-democráticos? Penso que a ditadura militar apenas atendeu aos anseios da população que não sabiam lidar com um livro de Cassandra Rios. Da mesma maneira, o ex-prefeito do Rio atendia uma parcela de seu eleitorado quando mandou recolher os livros LGBTs da bienal. O mesmo se aplica àqueles que boicotaram o Jefferson Tenório, pais amorosos, assim como meu pai, que se preocuparam com a criação cristã, sem senso crítico, obediente, visão unilateral de seus filhos. É um projeto de país a falta de incentivo a leitura. 

 

Enquanto alinho os livros tombados na prateleira, penso o quanto é corajoso manter uma biblioteca com um acervo para dar espaço às minorias, aos silenciados, aos ignorados, aos leprosos desprezados. Uma biblioteca feita de livros LGBTQIAPN+, feminismos, negritudes, indígenas e asiáticas. Um dia espero que meu livro esteja aqui nessas estantes, um livro que ainda escrevo. 


Minha relação com a leitura tem buracos e ressentimentos. Não li todos os clássicos. Não acompanho todos os lançamentos. Parece que sempre estou por fora do mundo literário. Sei que me faltam referências, bagagem, horas de leitura. Detesto quem cita frases e nome de autores. Que dizem que leem um livro por semana. Arrogantes. Esnobes. Detesto porque não sou eu. 


Antes de me permitir a desenvolver minha escrita em oficinas criativas, participar de grupos, trocar textos; eu vivia como um espectro de escritora recalcada que nem se permitia a ler. A leitura me disparava gatilhos e ao invés de me aproximar, me afastava. Puro bloqueio mental e assumo a inveja àqueles que superaram a si mesmo, escreveram, publicaram e para me doer ainda mais, tiveram sucesso. Aos poucos superei. Recuperei o prazer pela leitura. Faço leituras simultâneas de 3 a 4 livros de uma vez. Ansiosa, provável. O fato é que não sou monogâmica quando se trata de livros. Deito-me com todos ao mesmo tempo. 

 

Trabalhar numa biblioteca comunitária LGBTQIAPN+ me tornou mais íntima dos livros. Ainda mais uma biblioteca recheada de leituras deliciosas. 

 
 

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