Falas curtas sobre bicicleta

Não ando de bicicleta, disse a ela no primeiro encontro, tenho dores no quadril. Para ela era muito importante que compartilhássemos os mesmos hobbys, como se eu não pudesse ser eu, não houvesse nada de interessante em mim, que eu deveria ser ela. A bicicleta, o short curto, as meias divertidas até às canelas, ela chegando para me encontrar com o suor escorrendo entre os seios. Era o que eu gostava nela. E o que ela gostava em mim? Insistia para que eu andasse de bicicleta também. Compra uma. Eu não. Pra gente ir até Salvador. Eram os planos. Porque o não-amar é transformar o outro em alguém mais parecido com o eu. Se esse outro não tem tração em sua própria correia para se manter alinhado girando no centro de seu eixo pode acabar perdendo o gosto por seus interesses e viver a vida alheia. Até que ela arrumou uma segunda bicicleta. Pra você. Dentro de mim uma corrente se quebrou. A dor no quadril no dia seguinte fez eu me odiar ainda mais.