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Criptografada 

Se eu fosse contar um segredo diria que guardei minha sexualidade por muitos anos. Ainda tenho dificuldades em assumir. Nem todo mundo sabe. Escutei muitos sussurros. Risadinhas. Fui expulsa de casa. Levei tapa na cara. Aprendi a disfarçar. Evitei andar tão à vontade. Mentiras que contei que eu mesma acreditei. Desenvolvi ansiedades e estratégias para não ser descoberta. Não fui capaz de encarar e dizer: Que que é, hein? Sou mesmo. Sou lésbica. Sapatão. Cola velcro. Chupa charque. Bolacheira. Fanchona. Pega nas minhas tetas! Meu sonho.



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São várias portas até sair por completo do armário. Algumas já abri. Outras me faltam força. No trabalho ninguém sabe. Na família contei para poucos. Minha mãe acha que é uma fase. Depois de 40 anos, mãe? Meu pai teme pela salvação da minha alma. Chegando lá no céu quero ver quem entra primeiro. O lugar ao meu lado está sempre vazio no almoço de domingo. Cobram netos. Todos sabem, mas me evitam.  Pior quem se compadece e me coloca num lugar de um bichinho a ser protegido. Sabem que sou carente de afetos. Só eu por ti. Só eu que te aceito. Basta de esmola. A partir de agora eu me aceito.


Tenho algo a dizer, porém sofro de sequelas. Tem um espaço a ser preenchido. Tem uma lacuna em minha fala. Sinto-me criptografada. Boto senha nos arquivos. Morro de medo que leiam todas as delícias que já confessei. Pensei em publicar com pseudônimo. Porém, mais um disfarce para sustentar. Um nome falso. Se um dia voltar a ser crime ser quem eu sou, não precisa me denunciar. Eu mesma me apresento diante do inquisidor. Não deveria ser de interesse de ninguém, mas parece que é.



Entendo agora porque devo ter orgulho. Por isso aos poucos escapo gestos. Seguro na mão. Abraço na fila do mercado. Não desvio o olhar. Não mudo de cidade. Dou nome às mulheres que amei, que me amaram. Não inverto mais os pronomes. Ninguém vai se assumir em meu lugar, enfrentar minhas batalhas, escrever minha história. A verdade é que já fui tão rejeitada a vida inteira que o desprezo agora me proporcionou uma certa liberdade. Quero que me reconheça como uma lésbica. Na rua. Nos meus textos. No meu respirar. Estou aqui. Existo. Queira você me matar ou não, vou dizer a que vim.


 Foda-se. Foda-se. Foda-se.  


(Elis Faustino 2024)


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