Alana S. Portero e o Mau Hábito
- Elis Faustino
- 16 de out.
- 2 min de leitura

(resenha sem spoilers)
Confesso que estava ansiosa para chegar o mês em que discutiríamos Mau Hábito de Alana S. Portero em nosso Clube de Leitura. O livro é intenso. Visceral. Precisei respirar fundo antes de virar a página. Não foi fácil caminhar até o fim com Portero, mas confesso que nos últimos capítulos não consegui largar o livro. Creio que são justamente essas leituras que nos deslocam e sacodem.
Em seu livro de estreia, Portero cria uma atmosfera de contos de fadas de princesas e bruxas madrinhas, a monstruosidade dos porcos, homens dragões, anjos caídos e todas as personagens que habitam o bosque LGBTQIAPN+. Portero brinca com a fantasia ao trazer uma realidade pesada e cruel do que é ser uma criança trans.
O bairro periférico San Plas em que cresceu, assim como Madri, se tornam personagens. Portero desenvolve toda uma cartografia e nos convida a caminhar com ela pela cidade. Um hora estamos encurraladas em um beco aos beijos, outra andamos por avenidas temendo pela vida ao ocupar espaços com nossos corpos e sexualidade.
Além de ser rico em imagens e descrições, Portero também nos inunda de sons. Na última página a autora separou uma playlist com todas as músicas do livro. Estou no replay de La Gata Bajo la Lluvia.
Não à toa Portero causou tanto burburinho na crítica, recebeu prêmios, ganhou as ruas, rompeu fronteiras. Sua história chega a nós pela Editora Amarcord cheia de poesia e densidade.
Quando escolhi esse título em minha curadoria pensei em quem estaria ao meu lado, lendo, debatendo, interessado em conhecer o universo das pessoas LGBTQIAPN+. Mulher trans, escritora, colunista da Vogue, medievalista, dramaturga, encenadara e cofundadora da companhia teatro Striga, Portero tem se dedicado ao ativismos LGBTQIAPN+ com foco em mulheres trans.
Podem esperar, Alana S. Portero já mostrou a que veio e ainda tem muito mais a dizer.
Espero vocês no Clube de Leitura, sábado agora, dia 18/10 às 11 horas, online. No dia envio o link aos que se inscreveram na newsletter. Se você ainda não participa, vai lá, link na bio ou em elisfaustino.com
Deixo aqui meu recorte de uma das passagens mais lindas do livro:
Era preciso muita coragem para montar-se diante do espelho da forma como você entende a si mesma e trasladar essa intimidade para o espaço público, requisitava todas as forças que tinha disponíveis. Devido a essa exigência monumental, com bem pouco era possível machucar muito. Nunca me senti tão forte e tão vulnerável ao mesmo tempo. Como algo tão lindo, algo tão pessoal e tão extraordinário, como compartilhar com o mundo um feito que vibrava pura alegria, poderia ser percebido com tanta maldade por outras pessoas?




