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1# Garrafas ao Mar: Autossabotagem

"Garrafas ao Mar" é a série do Diário de Escrita, onde registro o processo criativo da construção do meu próximo romance que tem o título provisório de Sardinha

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"Se você não é a pessoa livre que deseja ser, encontre um lugar onde possa contar a verdade sobre isso. Você poderia sussurrar diante de um poço. Você poderia escrever uma carta e colocá-la em uma gaveta. Você poderia inscrever uma maldição em uma fita de chumbo e enterrá-la para que ninguém a lesse por mil anos. Não se trata de encontrar um leitor, trata-se de contar." (Anne Carson)

Escrever sozinha sem acompanhamento é como um rio que perde suas margens. Depois de 4 anos escrevendo meu romance, não sabia mais o rumo que minha história estava tomando. Tinha um projeto inicial. Concluí a primeira versão. De lá pra cá, na revisão fragmentei os capítulos em trechos. Desenvolvi personagens secundários. Reescrevi umas 8 versões diferentes. Minha Sardinha virou um Frankenstein. Minha criação, um monstrengo diante de mim, páginas e páginas que me assombravam.


Estava convencida de que escrever, ser uma romancista, não era para mim. Larguei a Sardinha na gaveta. Fui estudar Finanças, aquecer meu diploma de economista, tenho boletos pra pagar. Vou escrever por hobby, pensei. Em 2023 participei de uma oficina de escrita com o Itamar Vieira Júnior na Balada Literária. Ele disse que os personagens são seres encantados esperando alguém pegar a caneta na mão para escrever suas histórias. E se o autor se recusar a escrever, o personagem procurará outro que esteja disposto a fazer o trabalho que eu me recusei a fazer. Naquele dia peguei o corpo da Sardinha como quem carrega uma seda. Estendi no chão da sala as páginas impressas. Organizei meus retalhos. Fotografei para perícia. Prometi que voltaria à minha rotina de escrita.


No dia seguinte não compareci a minha sessão de escrita. Tinha louça para lavar. Reels para assistir. Tirar uma soneca. Passear com os cachorros. Responder emails. Atualizar aquela planilha de custos.


Eu precisava de ritmo, consistência, disciplina. Estabelecer um prazo, mas quantos prazos internos não cumpri? Sozinha não dou conta, concluí. Precisava de um grupo de escrita, como são as turmas de corrida no parque. Você poderia dizer que correr é simples. É só colocar um tênis no pé e ir. Da mesma forma, escrever é fácil: só sentar, pegar a caneta e escrever. Eu queria um grupo para não me sentir tão solitária e perdida. Alguém para dividir as angústias. Ler. Criticar. Me ajudar a evoluir. Aperfeiçoar minha linguagem. A esperança era que a troca com o outro me fortalecesse. Assim, minha escrita estaria protegida da minha autossabotagem.


Depois de um longa busca, encontrei minha turma no Clube de Escrita com a Mayara Blasi. Trocamos textos, mas nada em relação a Sardinha. Ainda não tínhamos intimidade. Não poderia despejar minha Sardinha destroçada logo de cara. Esperei. Até que a oportunidade surgiu. Fiquei de enviar o que eu tinha. Enrolei uns 3 meses. Juro. Enrolaria mais se pudesse. Disse que precisava organizar o texto. Aí chegou dezembro. Deixei pro ano que vem, empurrei com a barriga. No começo de 2025 enviei meu primeiro capítulo.


Enviei a pior versão.


Dava pra ver os esparadrapos remendando meu texto. As bandagens sustentando os parágrafos. As frases mal colocadas. Erros gramaticais sangrando. Excesso de pus na boca do narrador.


Por que eu fiz isso? Por que me apresentei sem o menor cuidado? Ou será que foi o excesso de zelo? Mastiguei muito o texto por estar desacostumada a ser ouvida ou lida. Não sei por quanto tempo terei a atenção do outro, por isso falo tudo de uma vez como se não houvesse outra chance de mostrar quem eu sou. De sustentar os silêncios internos sabendo que o outro não vai largar a minha mão. Fui acometida da ansiedade da primeira impressão. Do medo do abandono: todo livro tem o medo de ser fechado e nunca mais ser aberto.


"[...] desconfia da capacidade do seu próprio instrumento - a linguagem - de dizer o que tem para dizer. Também desconfia da força de sua história. É por isso que se escuta em palavras que não convêm à narração. E, por fim, desconfia da leitora e de sua capacidade de compreensão." (Betina González)

Liguei para minha mentora:

─ Vou reescrever esse capítulo sofrível. Me perdoe. Vamos começar outra vez?

Quando a autossabotagem vier, se dê outra chance.

 
 

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